quinta-feira, 14 de maio de 2015

KAMBAS TEIMOSOS

Vivemos na perspectiva dum futuro melhor, que aos poucos se transformou na motivação pra a vida, numa esperança pra todas as malambas ou talvez mesmo numa crença de que o amanhã seja melhor do que o hoje e muito melhor do que ontem.

O futuro este distante e tenebroso desconhecido, parece que ganhou o estatuto de paraíso e ao invés dum espaço concreto como o Éden, tornou-se num tempo, embora não determinado; porque o amanhã é uma ardilosa promessa escondida no eterno para sempre.

Há algum tempo que o futuro apesar de incerto, é sinónimo de progresso é uma certeza de satisfação das necessidades básicas, um pulo para o crescimento individual e desenvolvimento da humanidade, um lugar de teleportação, erradicação e descoberta de cura para todas as doenças, o ponto máximo da realização da justiça, da eliminação das assimetrias sociais. Esse mesmo futuro talvez responda as perguntas da nossa origem, talvez acabe com a poluição ou apresente sistemas de governo mais reais do que utópicos e que potenciem a liberdade, a igualdade e a felicidade. Aliais para muitos o futuro é, e não será!

A felicidade essa velha perseguida; valioso alvo desde o passado ancorada em curtos instantes dispersos ao longo de cada trajectória dum ou duns e de tantos outros, mas sobretudo daqueles que a reconhecem mesmo quando se coloca de costas.

A esperança nunca é sobre o passado, senão se chamaria lembrança. É no futuro que depositamos todas as promessas e anseios de liberdade de ser, ter e fazer todas aquelas coisas e mais algumas necessárias e desejadas. Enquanto que, o passado é ditador e não está aberto a discussões sobre todos aqueles factos consumados ou oportunidades consumidas. O presente é uma prisão gradeada tanto pelo passado de memórias e experiências; quanto pela ideia de um futuro melhor.

Para a maioria basta a esperança quando novo e a nostalgia quando velho; os teimosos tentam ser mais do que isso e lutam. Sim, é uma verdadeira luta mudar o curso do rio, porém possível, assim é também a vida... E de resto muitos pela ciência, arte, desporto, aqui e acolá foram teimosos, por uma razão inexplicável ou não, acidental ou voluntária alteraram cursos, remaram contra a maré, moveram montanhas.

Tudo porque um teimoso diante de mais uma daquelas coisas intoleráveis, porém habituais na banda em chat de escárnio e maldizer na mesma sintonia e tantas outras frequências nos cantos do mundo, acredita que antes que ele se canse da maldade é ela quem se cansará dele, de tanta teimosia e que ia convidá-la a dar umas passadas no boda da vida.

Esse mesmo teimoso não presenciou outras conversas de afirmação peremptória de insolubilidade de alguns problemas, pelo menos imediatamente; isto não era pessimismo, um propalado realismo? Era simplesmente uma constatação de repetidos passados e futuros a adiados. Recomendava deleite do presente, buscando alternativas enquanto ideal não vinha.

Mas para aquele teimoso que apenas respondi: 'Somos jovens... A ver vamos... Até onde a nossa teimosia nos leva. No fim talvez seja por vitória, conformismo ou mesmo falta de opção derrotados pelos inimigos comuns: normalidade e estabilidade. Disfarçados de família e emprego, quando no afinal é uma boa dose de covardia, talvez!'. E, ele negou-se a digerir a oração, sem que fosse enquadrada num texto... Dei-lhe, um contexto!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

GLADIADORES

A sociedade hoje está a produzir muita gente 'armada'. O discurso será na primeira pessoa porque armado como sou não vou deixar os créditos em mãos alheias. Embora apele a solidariedade do caro leitor e por isso mesmo o número gramatical a usar será o plural; para que entendamos todos que o número de gente armada é considerável; mesmo que não seja por mérito próprio, é que somos todos produtos da nossa sociedade!

Começamos mal, sei. Entretanto hoje tendemos a ser mais directos nos discursos, ríspidos e até irónicos, mesmo que seja apenas  para nos sentirem a força. É que desde que a genuína humildade desapareceu, somos todos armados e perigosos! Essa, entendamos a humildade, de tantos maus tratos, traiu os seus próprios princípios. Tanto que a dada altura tornou-se numa humildade ensaiada, armada em mais humilde que todas as humildades do mundo. De tanta infidelidade a si mesma, apanhou uma doença venérea e faleceu, diz-se; ou pelo menos está moribunda, fraquinha, fraquinha.

Somos armados em que somos, armados em que temos, armados em que podemos, armados, em que sabemos, armados em que fazemos e acontece, enfim... Armados em bué, e para completar, a cereja no topo do bolo exigimos humildade uns dos outros.

Mas não vamos falar de todas as armas, mesmo que esteja já armado em conhecedor delas de cor e salteado, mas não; também senão o fizesse seria um armado muito à toa.

Hoje na era informação, triunfou a irmã opinião, pedida e/ou não, pública e/ou privada, escrita e/ou falada; há opinião para trás e/ou para frente, para cima e/ou para baixo, dos lados esquerdo e/ou direito, fraca e/ou forte, tendenciosa e/ou imparcial. Aparece-nos com cada assunto que temos de dar opinião, temos de estar sempre 'en garde', na net então? Só posta quem sabe, só comenta quem sabe mais, todos temos de ter razão, todos sabemos opinar. Nada mal; democracia na área, o que na vida real não é possível; vamos materializar na virtual (kia kia kia kia kia - desculpem, emocionei-me!). Liberdade de expressão avante, talvez. Só que sentimos que muitas vezes, isso quando não é sempre, estamos mais preocupado que o outro aceite já já o nosso ponto de vista, uma vista enublada também as vezes.

Sei que na era da informação tudo é rápido e quem não deu opinião hoje, que desse e ponto final. - Aqui agora é só ponto, e continuação.- Por isso estamos sempre alerta, seja para atacar ou para defender, sem muitas vezes termos tempo de estudar as estratégias de campo, é que pode não ser sequer um ataque... mas enfim, fogo amigo!

Os meios de comunicação transformaram-se em arenas, bem que podiam ser ideológicas, mas não; são arenas de vaidade, quem cita e referencia mais, quem leu mais, quem ouviu mais, quem utiliza mais palavras caras. As tantas perde-se a essência da luta e lutamos por entretenimento, mas nem isso, é que o vermelho sangue não é bem a cor do amor, tornando o espetáculo triste. O público este que se dane se houver, afinal todos são gladiadores..

As armas matam, não tanto o inimigo, porque essas balas nunca são corajosas o suficiente para atacar os verdadeiros inimigos das causas humanas. Escolhem os mais fracos e esquartejamo-los, decapitamo-los e levantamos as cabeças, como se de troféus se tratassem. Mas o mais atentos até têm pena dos gladiadores. Há momentos em que não estamos propriamente numa arena; estamos entre amigos e família, o que acontece é que apesar de armados, quando chega a verdadeira hora da luta, aquela hora H e dia D, as armas nada disparam ou nos apercebemos que sempre foram obsoletas. Touché!

Sinto muito... Mas, até transformarmos a informação em conhecimento precisaremos de muito treino, e o conhecimento em sabedoria, vai ainda um longo caminho de humildade até atingir a máxima socrática de 'Só saber, que nada se sabe'.


Até lá, treinemos... O combate talvez não seja hoje, nem agora; arena não seja esta é o inimigo não seja tu ou eu. 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ano Novo Próspero - #SóQueNão



Finda a quadra-festiva, ou seja, a época de festas, além claro do balanço económico que se faz ou pelo menos se devia fazer; porque as receitas aumentaram exponencialmente com o subsídio de Natal e bónus disso e daquilo para quem os tiver (é que nisso de bónus não estamos todos juntos, nem misturados), as despesas essas também não deixam nada a dever. Aliais, não existe época qualquer ao longo do ano que rivalize em termos de consumismo; bacalhau e passas à parte, a verdade é que se os perus não forem sacrificados há sempre farinha, leite, ovos, margarina e açúcar acrescidos dalgum sabor a qualquer coisa, ou especiaria rara (para os finórios) para adoçar a vinda de Nosso Senhor ou o champagne (seja em rigor ou J.C. Le Roux) para boa-sorte no ano que vem.

Uma faceta não menos importante é a da carga de presentes que se dão e se recebem (apenas no plano ideal), porque entre amigos ocultos com prendas de baixo escalão (se aparecerem), a frustrarem expectativas de crentes neste galanteio muitas vezes forçado e os sempre obrigatórios presentes infantis, impostos por uma crença num qualquer barbudo voador de trenós movidos à renas, ficamos sem saber se o simbolismo afinal tem valor ou não. E, por favor nada de valor simbólico, tem mesmo de ser pecuniário, porque onde é que já se viu trabalhadores de multinacionais ou altos funcionários do aparelho do Estado, com prendas simbólicas que não rondem em Kwanzas pelo menos à duas dezenas de milhares?

Mas enfim... A vida é mais do que fartura, ou para ser mais crente; é mais do que praticar numa só época todo o catálogo de pecados capitais; pius a gula nunca foi tão lícita em todo o ano no calendário gregoriano (façam os devidos acertos nos calendários chinês, árabe ou azteca que dará no mesmo = gordura e açúcar a mais); a indústria do emagrecimento agradece.

Continuando, o melhor que se faz nessa época, além do amor instantâneo e espontâneo a condizer com os sininhos e as luzes é o balanço, sempre oportuno do ano que termina e a perspectiva do ano a seguir. Convenhamos que aqui contamos com a sempre pronta ajuda dos livros de auto-ajuda, dados como prendas ou talvez comprados, teologia da prosperidade dessa fé pop, optimismo comercial, palestras de motivação e todas essas coisas que afirmam que só não será bem sucedido quem não quiser; mesmo quando todas as probabilidades indicarem o contrário.

Os desejos de Ano Novo são ambiciosos e eloquentes, são sedutores e puros, como se os anos per se trouxessem prosperidade, paz, amor e sucessos.

SÓ QUE NÃO! Afinal passados 12 dias do Ano Novo, continua a haver pouco dinheiro, amor, felicidade e tudo o mais que foi desejado reciprocamente, com doses cavalares de hipocrisia ou não. Na virada, não virei, ainda bem... Resta saber como se opera, o processo de mudança se afinal as simpatias com fogos-de-artifícios, roupas brancas e contagem decrescente a mistura servem para o quê?

Também há daquelas pessoas que para carinhosas gerais só mesmo no final do ano; o carinho delas é sazonal, funciona à 14 de Fevereiro para os namorados, 19 de Março para os pais, segundo domingo de Maio para as mães, 1 de Junho para crianças e nas datas de aniversários dalguém senão for esquecida, (são os mesmos que ficam patriotas quando há vitórias da selecção de futebol) assim o frenesi do carinho faz muito sentido; amor a espalhar para tudo e todos, todo organizadinho em datas e tal.

Bom; há quem também para planear e balancear use apenas esta época, nada contra, nem favor... Cada um que faça esse exercício na data que melhor lhe convier, a bem dizer as vezes e quase sempre é mesmo necessário parar para observar e planificar, para quem não 'deixa a vida lhe levar'; seja no princípio ou no meio do ano tanto lhe faz, como lhe fez... Mas penso que havendo ou não tsunami, com ou sem eleições gerais, parece que os anos enquanto unidades de medição do tempo são indiferentes à sorte ou ao azar.

2015 será melhor, se trabalharmos mais, e se as circunstâncias permitirem, é que o petróleo está a ser transaccionado muito abaixo das 'nossas' previsões. Embora convenhamos que a ligação entre o petróleo e a felicidade não está ao alcance de todos. Bom Ano!


Nobre Cawaia

segunda-feira, 28 de abril de 2014

LETRAS ENSOPADAS

Ao contrário da maioria, era indiferente ao tempo, se dia de sol ou de chuva tanto fazia, pouco importava, pois qualquer que fosse o estado renderiam incontáveis estórias. Pois estou numa terra muito fértil, que de tão fértil dispensa rega, os factos e personagens da cidade perdoam a inconstância das águas da natureza e a incompetência do homem em distribuí-las.

Não assumi partido em relação ao tempo tal como os outros divididos entre os pró chuva purificadora e fiscalizadora ou contra chuva condenadora e destruidora, os pró sol de praia ou contra sol da catinga, os pró céu nublado de sombra ou os contra céu nublado depressivo, os pró frio estímulo de procriação ou contra frio estimulante da preguiça, os pró humidade ou os contra humidade, os pró vento e os contra vento, por estas bandas havia de quase tudo no clima. Os argumentos a fundamentar cada uma das opções vão desde os económicos, políticos aos culturais com direito a fervorosos praticantes na feiticista arte de amarrar chuvas embrulhadas numa lenda mística.

Toda a parafernália meteorológica a mim era completamente irrelevante, apenas interessava o drama, a tragédia, a comédia, o romance ou o terror que poderia oferecer. Neste aspecto sim, estava acima do bem e do mal, era como que um deus menorzinho para esta questão em particular. Assim podia ser uma bela manhã de alegre sol e suave vento; como, num céu completamente coberto de nuvens ameaçadoras anunciando diurno breu, não mudaria o meu humor. Confesso sentir um secreto prazer nos falhanços dos serviços de previsão meteorológica, porque expunham a frustração dos seus crentes, era o máximo de partido que tirava.

De resto era de um cinismo completo diante das lamúrias do caos em que a cidade se tornava com as chuvas - se é que havia ordem alguma -, aos apelos dos desconsolados de tanta secura, as queixas das vítimas de doenças causadas pela humidade do ar, enfim todas estas preocupações pertenciam a um mundo a parte; pelo menos no que as causas diziam respeito, porque o que queria mesmo, o que deseja profundamente, eram as diversas reacções que a diversidade do tempo propiciavam.

Porém nunca escondi a razão de tanto descaso: letras! Sentia-me o dono das letras, sentia-me o proprietário das sílabas, o todo poderoso das palavras. Com as palavras construía universos paralelos, desconstruía a realidade, fomentava lendas, narrava façanhas, os vocábulos eram como que pedra filosofal ou elixir da vida eterna. Aí sim me importava, interessava doentiamente em descrever tudo o que existe, existiu e existirá, absolutamente tudo, sem limites, sem comprometimento e o único desafio era de resgatar a mágica da palavra como quando 'no princípio era o verbo...'. A minha palavra era escrita e por isso mesmo me bastava a tinta e o papel, ferramentas desconsideradas se do estado do tempo se tratar, aqui não há espaço para cata-ventos, termómetro, anemómetro, barómetro ou pluviómetro.

Fiz-me a via alheio, alheio não; ignorando qualquer que fosse o tempo. Bastava-me observar e em seguida copiar, criar ou recriar ocorrências baseadas ou não no tempo somado clima, porém o clima era muito longo e levava-me a perder o fio de uma boa história, a menos que fizesse dele sinónimo do tempo. Ouvi um murmúrio sobre chover que desprezei. Depois senti certa brisa, e vislumbrei diminuição da luz, ouvi ao longe nuvens colidirem e produzirem trovões uns mais ensurdecedores que outros, assistidos por valentes relâmpagos. Divisei chuva, o que não aqueceu nem arrefeceu; continuei a caminhar pensando no lucro literário deste fenómeno. Rapidamente pingos sucessivos precipitavam-se a cair fugidos de nuvens que abundavam o céu, chegadas ao chão faziam correntes de água, transformando caminhos em pequenos rios. Assistia a tudo maravilhado, pensava sobretudo na capacidade distinta da água de esquivar os obstáculos procurando caminhos para junto do mar. Fantástico!

Deleitado nesses pensamentos procurei condições para escrever, foi aí que me dei conta, do desespero das pessoas por estarem a molhar, da força da chuva a demolir obras mal construídas, das cansadas estradas a abrirem crateras, na energia eléctrica a desaparecer, era uma reacção em cadeia interessantíssima, pensava eu. Procurei com os olhos algum abrigo! Tristemente dei-me conta de que não poderia escrever a minha estória à chuva, tentei olhar para o céu, e de repente as gotas eram mais grossas e agressivas... Ao lado vislumbrei uma esplanada pareceu-me ser o local ideal, lá chegado sentei-me não sem antes o garçom perguntar se ia consumir alguma coisa, uma vez que só podiam ser abrigados clientes, achei um autêntico disparate, mas não podia perder o foco, havia uma estória a ser escrita.

Pelo menos era essa a intenção, escrever... Olhei para a caneta não funcionava, e o papel inútil para a escrita, chamei rapidamente o garçom e fiz o pedido: - uma caneta, papel A4 branco e chá. O rapaz retrucou: - a caneta pode-se ver, porém o único papel que temos para dar é o guardanapo, deve chegar para escrever um lembrete. Aquelas palavras ressoavam-me na cabeça como golpes, sentia raiva daquela estúpida esplanada que não servia papel em condições, vociferei ao moço sobre a importância de uma estória da chuva. Este indignado respondeu que devia dar-me por feliz, por perder apenas a estória, pois os outros perdiam tudo o que tinham na vida; de seguida foi-se embora.

Pensei no meu drama das letras ensopadas, que foram com a água sabe-se lá para onde? Provavelmente acompanhariam o seu ciclo e num dia qualquer voltariam em forma de nuvem, humidade ou gelo, sentia-me vazio pois a minha estória ia a medida que toda aquela água caia, olhava triste para as pessoas ao lado que dialogavam acerca das suas perdas, da despreparação da cidade para tanta água de S. Pedro. Mas as chuvas sempre existiram, não sei porque é que se tornaram numa tragédia. Com mais alguns minutos de pesar, compreendi a expressão dos pobres que nada tinham, mas que tudo perdiam nas intempéries do tempo.

Fez-se luz e a indiferença não era mais minha, mas do tempo esse malandro que não queria saber da preparação de nada nem de ninguém, se pobres ou ricos, vinha na forma de seca ou de tempestade desinteressado se necessário ou não. O tempo esse sim era o verdadeiro deus, e exigia do homem adoração, reverência, poderoso como só ele. Afinal ele o vilão da obra humana, tão velho como a própria Terra, ele o causador do bem e do mal, partícipe do gene da vida.

Perdi a minha estória e vivia na hipocrisia do desconsolo do meu próprio drama, punido pelo pecado da indiferença, podia ter sido mais solidário. Foi-se a história, ficou-me o drama pessoal misturado com lama e destruição de uma postura. Pobre de mim e das minhas letras ensopadas.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

MEDIOCRIDADE

Há muito que um pensamento martela os meus neurónios - talvez agora se explique muitas coisas no meu comportamento -, além disto a ideia já foi exercitada em inúmeras mutambas de 'chatos' como eu - 1 Coríntios 15:33 - Não vos enganeis. As más companhias corrompem os bons costumes  -, as vezes com graça, entretanto na maior parte delas com pesar. É uma preocupação legítima e na minha opinião pode já configurar uma preocupação de Estado, esta ideia é partilhada por um certo grupo de cidadãos além dos que comigo privam (e agora publico), que são de opinião que já é uma questão política de alto nível, há que se ter coragem e determinação para enfrentarmos este grave problema.

Este problema há muito que deixou de ser conjuntural, agora é mesmo estrutural e a velocidade cruzeiro vai se tornando cultural; daí a passar por desculpa de que é da nossa génese, maneira de ser e de estar... são dois passos: - Há porque, angolano é 'mbora memo' assim!

O pensamento, que passou a problema, depois preocupação e agora questão em análise, é estrutural porque está na base, bem no começo da obra, e notem que a obra aqui sem muito esforço entende-se em sentido duplo, num primeiro momento no sentido próprio e num segundo no sentido figurado; afinal estamos num país-canteiro, este canteiro que é de obras, sem nos importarmos de que material são feitas, se atende as nossas dificuldades objectivas ou subjectivas, se bem que em boa verdade são imensuráveis os ganhos políticos no meu, no dizer dos outros e todos. Deixemos as obras que como previamente referi são mero exemplo, tendo obviamente em devida nota o sentido polissémico (é importante chamar atenção, as vezes as pessoas de per se não notam esta refinada e novíssima, ao mesmo tempo que subtil técnica de expressão).

Retomando ao alicerce, as fundações ou começo de obra, para fundamentar o entendimento de que se trata de uma questão estrutural atentem ao seguinte raciocínio: somos um país a nascer, sim porque 38 anos de independência para um país é o equivalente ao início da puberdade numa pessoa. Sobretudo, quando temos um país com valores difusos, os próprios que muitas vezes não sabemos quais são, os dos outros que primeiro foi imposto, agora também pode ser imposto só que de uma maneira mais camuflada e pensamos que escolhemos livremente. Não sabemos quase nada sobre a vida, certo é que há debutantes e debutantes, uns mais espertinhos do que os outros e para não ser megalómano nem panco, vamos considerar Angola um adolescente-país normal, ou seja, nem muito bom ou tanto mau.

Os adolescentes caracterizam-se por estarem em aprendizagem contínua, não só por imitação como as crianças, mas sobretudo por começarem com a associação de ideias e a feitura das escolhas com base no raciocínio, embora o fervilhar - exclusivamente em sentido figurado - das hormonas interfira neste processo, embora (propositadamente repetido) esta interferência hormonal seja necessária para a formação física e mental da pessoa. E como o nosso país, o entendimento das suas gentes sobre as coisas do Mundo é básico, primário, inicial, não somos um adolescente-país génio - lembram-se do nem muito bom ou tanto mau?-.

Até aí problema nenhum, pois todos perdoam alguns erros da adolescência, porque ninguém nasce a saber... O problema, questão, pensamento e preocupação - a  ordem é aleatória - prende-se com duas razões: a ignorância e a pseudo-sabedoria, a primeira é petulante é atrevida mas perdoa-se-lhe a ingenuidade; a segunda e mais preocupante é arrogante disfarçada na hipocrisia ou pior pseudo-humildade - sim, o pseudo do pseudo -. E já explico: as pessoas leem três folhetos de literatura de cordel e já se acham entendidas em literatura, escrevem dois versos e se sentem poetas, tocam dois acordes e desafiam Santana, gravam dois vídeos e acham-se merecedores de um Óscar, e podia passar o texto todo a buscar exemplos, como o do estudante universitário que acha que é Lavoisier sem perceber a regra dos três simples, ou Platão, sem entender a 'alegoria das cavernas'.

Apoiamos o poder de iniciativa e o esforço(?) dos empreendedores, mas desencorajamos vivamente a mediocridade, usando padrões a qualidade é medida; aventurar-se é bom, porém é igualmente bom conhecermos os nossos limites e capacidades sob pena de passarmos por palhaços na igreja, ou seja, ser puro sacrilégio.

Quando perante estes egos inflamados de pouco conteúdo, pergunto-me sempre se estou diante do tipo ignorante - o que exigirá uma atitude pedagógica - ou do tipo pseudo-sábio - que exigirá uma atitude mais drástica -. E depois essa mania das grandezas sem ser nem ter, eleva-se a ponto de comprometer toda a Nação, daí sem pretensão alguma alertar que devemos ter cuidado.

Palavras simpáticas de encorajamento para um certo dom, não devem ser tomadas como créditos suficientes para transformarmo-nos em gurus da área, pelo contrário exigem mais responsabilidade e as críticas dirigidas ao nosso 'trabalho'  não fazem do crítico o invejoso de serviço, nem sequer devem ser levadas para o lado pessoal, porque se o trabalho tiver mesmo qualidade ele vai vincar, embora muitas vezes vinquem sem qualidade - verdade, dura, nua e crua -, mas duvido que fiquem para a posteridade - é a esperança..-.

Era esta a preocupação, problema, pensamento e questão que tinha para compartilhar hoje, o caminho faz-se caminhando já dizia um qualquer autor, que não sei de quem se trata, por ora (não vou googlar para ser justo). Agora digam se esta preocupação é nacional ou não?


terça-feira, 6 de agosto de 2013

DEDICATÓRIA AOS ROLE MODELS

Bom dia, 

Tirei alguns minutos para escrever estas linhas, porque tenho a consciência de nunca tê-lo feito antes, pelo menos expressamente. Porém isso não me inibe de fazê-lo agora, já diz o velho ditado ''antes tarde do que nunca' e como não sou adepto de homenagens póstumas, aqui compartilho os meus sentimentos e reflexões.

Muito se reclama sobre o comportamento dos jovens o ócio, a ambição desmedida, a arrogância,a  irresponsabilidade, a incompetência, a indisciplina, todos e mais alguns vícios, não nego de todo o fundo de verdade que estas afirmações carregam, entretanto refuto a ideia de que a culpa é somente dos jovens. 

Não quero aqui usar o argumento da vitimização, aliais estas linhas são como que confissão dos meus, nossos 'pecados'. Pois que, passado a idade adulta não se deve por coerência culpar os pais pela má sorte dos filhos. Se esta afirmação é verdadeira, também não é menos verdadeira aquela segundo a qual as características de um indivíduo se determinam pelas circunstâncias e experiências que este vivencia ao longo do tempo.

No fundo, quero apenas sugerir que no vosso processo de avaliação/julgamento às condutas juvenis tivessem em devida conta que somos aquilo que vimos, ouvimos e aprendemos convosco. A nossa sociedade está proliferada de adultos que se escudam desta função de exemplar, modelo ou padrão de comportamento, fazem e cometem os erros que são a semente dos nossos vícios.

O papel dos pais é fundamental, mas os adultos quaisquer que sejam as qualidades que vistam, ainda mais em África onde os velhos têm o principal papel de orientadores e passadores de de valores são também os responsáveis pela formação da juventude.

E sou muitíssimo grato por convosco ter cruzado, de ter beneficiado da vossa complacência para orientar-me em tudo aquilo que a pequenez e a limitação dos meus progenitores não foram capazes de dar. Vocês determinaram em certos momentos a atitude que tomei (muitas delas acertadas), porque naquele momento souberam exercer o vosso Role Model.

Dou-me por feliz por no mar das dificuldades do nosso país ter cruzado com esses seres humanos especiais, que fizeram e fazem diferença todos os dias com o pensar, falar e fazer, sobretudo o fazer; mas que para mim a diferença mais importante é esta que continuamente presente na minha vida.

Gostaria que este tivesse um efeito multiplicador, tanto para vós como para nós, nesta manhã queria reconhecer que melhor Role Model não poderia ter, desejar outro seria querer-me outro e apesar de todas as minhas insuficiências estou feliz, convosco e comigo.

Atentamente,
Adalberto Cawaia

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O Meu Pai Natal Africano

Certamente que muitos de nós de alguma forma já acreditaram no Pai Natal, portaram-se bem durante o ano, escreveram as cartas e entregaram aos pais para que as levassem até ao correio, mas daí até receber as prendas é que tudo muda. Não que ele seja satânico ou membro dos Iluminatti a tentar passar mensagens subliminares como parece estar todo o mundo da fantasia infantil, segundo lendas urbanas. E esqueçam, esta não é uma estória de encantar, tão pouco de desencantar, mas talvez uma justificação dos desencantos, tentar entender porque é que os presentes do Pai Natal, para muitos se não fosse o esforço dos pais, nunca chegaram ou chegariam.

Para começo de conversa, o Pai Natal ao contrário das guerras, mal nutricção, desertificação, malária, HIV e a corrupção não está destinado aos africanos. Senão vejamos, um indivíduo rechonchudo a tender para obeso a menos que seja um problema de saúde cujo peso aumente independentemente do excesso de calorias e sedentarismo, não seria com certeza africano, este tem de trabalhar o dobro e alimentar-se pela metade se quiser sobreviver; o indivíduo vestes roupas quentes de Inverno, aqui temos um Cacimbo quente como nunca será o Verão do Polo Norte, portanto aquelas roupas são no mínimo ridículas aqui, quanto ao trenó este não desliza sobre desertos, estepes, savanas ou florestas, que funcionam com tracção animal de Renas voadoras, se isso acontecesse aqui seria pura magia-negra e o responsável seria apedrejado até a morte; e até mesmo no mundo da feitiçaria africana o uso Renas devia ser demoníaco com tantos outros veados que temos, e a entrada pela chaminé pouco provável porque não fazemos muito o uso delas, nas cubatas não existem, os arquitectos não as projectam e ultimamente há aquecedores eléctricos, o que complica; com essas questões todas é pouco provável que o Santa Claus sobrevivesse por essas bandas!

As crianças aqui, grande parte não sabe escrever porque nunca tiveram uma escola, os correios não funcionam, as pessoas enviam encomendas por amigos e parentes. Além que brinquedos as próprias crianças constroem, com os materiais que vão encontrando, isso quando não estão preocupadas a trabalhar ou a serem soldados numa guerra qualquer agitados pelos amigos do Papai Noel. O Santa Claus responde as cartas em 8 línguas oficiais e nenhuma delas é o Shoza, Kisuahili, Umbundo ou Lingala.Mas parece que desde que a Coca-Cola incentivou que a bebessem mesmo no inverno através doo Pai Natal, um Natal sem ele não é Natal, um Natal em que não se compra e não se vende parece não ser um dia de Família ou então pior, Jesus não nasce. Sem aqueles embrulhos enfeitados debaixo da árvore de Natal não há felicidade e aqueles desejos de Feliz Natal ficam vãos, porque o Natal que era do menino Jesus agora é do Pai Natal, e as famílias não mais se sentam para celebrarem o facto de se terem uns aos outros, mas de trocarem as coisas que o Pai Natal tras os iPads, One Million, Beat's by Dr. Dre, Porshes, Barbies, Boses, Chicos e a lista continua.Se o Pai Natal tivesse um cajado, a baraba farta grisalha, de calções a arejar, a andar num carrro puxado por uma Palanca e descesse cubata adentro eu me portaria bem durante o ano, tocava uma marimba que ele ouvisse, cantaria uma canção e pediria duas únicas prendas para África: Paz e Desenvolvimento.

Por: Nobre Cawaia
16/12/2012