quinta-feira, 14 de maio de 2015

KAMBAS TEIMOSOS

Vivemos na perspectiva dum futuro melhor, que aos poucos se transformou na motivação pra a vida, numa esperança pra todas as malambas ou talvez mesmo numa crença de que o amanhã seja melhor do que o hoje e muito melhor do que ontem.

O futuro este distante e tenebroso desconhecido, parece que ganhou o estatuto de paraíso e ao invés dum espaço concreto como o Éden, tornou-se num tempo, embora não determinado; porque o amanhã é uma ardilosa promessa escondida no eterno para sempre.

Há algum tempo que o futuro apesar de incerto, é sinónimo de progresso é uma certeza de satisfação das necessidades básicas, um pulo para o crescimento individual e desenvolvimento da humanidade, um lugar de teleportação, erradicação e descoberta de cura para todas as doenças, o ponto máximo da realização da justiça, da eliminação das assimetrias sociais. Esse mesmo futuro talvez responda as perguntas da nossa origem, talvez acabe com a poluição ou apresente sistemas de governo mais reais do que utópicos e que potenciem a liberdade, a igualdade e a felicidade. Aliais para muitos o futuro é, e não será!

A felicidade essa velha perseguida; valioso alvo desde o passado ancorada em curtos instantes dispersos ao longo de cada trajectória dum ou duns e de tantos outros, mas sobretudo daqueles que a reconhecem mesmo quando se coloca de costas.

A esperança nunca é sobre o passado, senão se chamaria lembrança. É no futuro que depositamos todas as promessas e anseios de liberdade de ser, ter e fazer todas aquelas coisas e mais algumas necessárias e desejadas. Enquanto que, o passado é ditador e não está aberto a discussões sobre todos aqueles factos consumados ou oportunidades consumidas. O presente é uma prisão gradeada tanto pelo passado de memórias e experiências; quanto pela ideia de um futuro melhor.

Para a maioria basta a esperança quando novo e a nostalgia quando velho; os teimosos tentam ser mais do que isso e lutam. Sim, é uma verdadeira luta mudar o curso do rio, porém possível, assim é também a vida... E de resto muitos pela ciência, arte, desporto, aqui e acolá foram teimosos, por uma razão inexplicável ou não, acidental ou voluntária alteraram cursos, remaram contra a maré, moveram montanhas.

Tudo porque um teimoso diante de mais uma daquelas coisas intoleráveis, porém habituais na banda em chat de escárnio e maldizer na mesma sintonia e tantas outras frequências nos cantos do mundo, acredita que antes que ele se canse da maldade é ela quem se cansará dele, de tanta teimosia e que ia convidá-la a dar umas passadas no boda da vida.

Esse mesmo teimoso não presenciou outras conversas de afirmação peremptória de insolubilidade de alguns problemas, pelo menos imediatamente; isto não era pessimismo, um propalado realismo? Era simplesmente uma constatação de repetidos passados e futuros a adiados. Recomendava deleite do presente, buscando alternativas enquanto ideal não vinha.

Mas para aquele teimoso que apenas respondi: 'Somos jovens... A ver vamos... Até onde a nossa teimosia nos leva. No fim talvez seja por vitória, conformismo ou mesmo falta de opção derrotados pelos inimigos comuns: normalidade e estabilidade. Disfarçados de família e emprego, quando no afinal é uma boa dose de covardia, talvez!'. E, ele negou-se a digerir a oração, sem que fosse enquadrada num texto... Dei-lhe, um contexto!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

GLADIADORES

A sociedade hoje está a produzir muita gente 'armada'. O discurso será na primeira pessoa porque armado como sou não vou deixar os créditos em mãos alheias. Embora apele a solidariedade do caro leitor e por isso mesmo o número gramatical a usar será o plural; para que entendamos todos que o número de gente armada é considerável; mesmo que não seja por mérito próprio, é que somos todos produtos da nossa sociedade!

Começamos mal, sei. Entretanto hoje tendemos a ser mais directos nos discursos, ríspidos e até irónicos, mesmo que seja apenas  para nos sentirem a força. É que desde que a genuína humildade desapareceu, somos todos armados e perigosos! Essa, entendamos a humildade, de tantos maus tratos, traiu os seus próprios princípios. Tanto que a dada altura tornou-se numa humildade ensaiada, armada em mais humilde que todas as humildades do mundo. De tanta infidelidade a si mesma, apanhou uma doença venérea e faleceu, diz-se; ou pelo menos está moribunda, fraquinha, fraquinha.

Somos armados em que somos, armados em que temos, armados em que podemos, armados, em que sabemos, armados em que fazemos e acontece, enfim... Armados em bué, e para completar, a cereja no topo do bolo exigimos humildade uns dos outros.

Mas não vamos falar de todas as armas, mesmo que esteja já armado em conhecedor delas de cor e salteado, mas não; também senão o fizesse seria um armado muito à toa.

Hoje na era informação, triunfou a irmã opinião, pedida e/ou não, pública e/ou privada, escrita e/ou falada; há opinião para trás e/ou para frente, para cima e/ou para baixo, dos lados esquerdo e/ou direito, fraca e/ou forte, tendenciosa e/ou imparcial. Aparece-nos com cada assunto que temos de dar opinião, temos de estar sempre 'en garde', na net então? Só posta quem sabe, só comenta quem sabe mais, todos temos de ter razão, todos sabemos opinar. Nada mal; democracia na área, o que na vida real não é possível; vamos materializar na virtual (kia kia kia kia kia - desculpem, emocionei-me!). Liberdade de expressão avante, talvez. Só que sentimos que muitas vezes, isso quando não é sempre, estamos mais preocupado que o outro aceite já já o nosso ponto de vista, uma vista enublada também as vezes.

Sei que na era da informação tudo é rápido e quem não deu opinião hoje, que desse e ponto final. - Aqui agora é só ponto, e continuação.- Por isso estamos sempre alerta, seja para atacar ou para defender, sem muitas vezes termos tempo de estudar as estratégias de campo, é que pode não ser sequer um ataque... mas enfim, fogo amigo!

Os meios de comunicação transformaram-se em arenas, bem que podiam ser ideológicas, mas não; são arenas de vaidade, quem cita e referencia mais, quem leu mais, quem ouviu mais, quem utiliza mais palavras caras. As tantas perde-se a essência da luta e lutamos por entretenimento, mas nem isso, é que o vermelho sangue não é bem a cor do amor, tornando o espetáculo triste. O público este que se dane se houver, afinal todos são gladiadores..

As armas matam, não tanto o inimigo, porque essas balas nunca são corajosas o suficiente para atacar os verdadeiros inimigos das causas humanas. Escolhem os mais fracos e esquartejamo-los, decapitamo-los e levantamos as cabeças, como se de troféus se tratassem. Mas o mais atentos até têm pena dos gladiadores. Há momentos em que não estamos propriamente numa arena; estamos entre amigos e família, o que acontece é que apesar de armados, quando chega a verdadeira hora da luta, aquela hora H e dia D, as armas nada disparam ou nos apercebemos que sempre foram obsoletas. Touché!

Sinto muito... Mas, até transformarmos a informação em conhecimento precisaremos de muito treino, e o conhecimento em sabedoria, vai ainda um longo caminho de humildade até atingir a máxima socrática de 'Só saber, que nada se sabe'.


Até lá, treinemos... O combate talvez não seja hoje, nem agora; arena não seja esta é o inimigo não seja tu ou eu. 

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Ano Novo Próspero - #SóQueNão



Finda a quadra-festiva, ou seja, a época de festas, além claro do balanço económico que se faz ou pelo menos se devia fazer; porque as receitas aumentaram exponencialmente com o subsídio de Natal e bónus disso e daquilo para quem os tiver (é que nisso de bónus não estamos todos juntos, nem misturados), as despesas essas também não deixam nada a dever. Aliais, não existe época qualquer ao longo do ano que rivalize em termos de consumismo; bacalhau e passas à parte, a verdade é que se os perus não forem sacrificados há sempre farinha, leite, ovos, margarina e açúcar acrescidos dalgum sabor a qualquer coisa, ou especiaria rara (para os finórios) para adoçar a vinda de Nosso Senhor ou o champagne (seja em rigor ou J.C. Le Roux) para boa-sorte no ano que vem.

Uma faceta não menos importante é a da carga de presentes que se dão e se recebem (apenas no plano ideal), porque entre amigos ocultos com prendas de baixo escalão (se aparecerem), a frustrarem expectativas de crentes neste galanteio muitas vezes forçado e os sempre obrigatórios presentes infantis, impostos por uma crença num qualquer barbudo voador de trenós movidos à renas, ficamos sem saber se o simbolismo afinal tem valor ou não. E, por favor nada de valor simbólico, tem mesmo de ser pecuniário, porque onde é que já se viu trabalhadores de multinacionais ou altos funcionários do aparelho do Estado, com prendas simbólicas que não rondem em Kwanzas pelo menos à duas dezenas de milhares?

Mas enfim... A vida é mais do que fartura, ou para ser mais crente; é mais do que praticar numa só época todo o catálogo de pecados capitais; pius a gula nunca foi tão lícita em todo o ano no calendário gregoriano (façam os devidos acertos nos calendários chinês, árabe ou azteca que dará no mesmo = gordura e açúcar a mais); a indústria do emagrecimento agradece.

Continuando, o melhor que se faz nessa época, além do amor instantâneo e espontâneo a condizer com os sininhos e as luzes é o balanço, sempre oportuno do ano que termina e a perspectiva do ano a seguir. Convenhamos que aqui contamos com a sempre pronta ajuda dos livros de auto-ajuda, dados como prendas ou talvez comprados, teologia da prosperidade dessa fé pop, optimismo comercial, palestras de motivação e todas essas coisas que afirmam que só não será bem sucedido quem não quiser; mesmo quando todas as probabilidades indicarem o contrário.

Os desejos de Ano Novo são ambiciosos e eloquentes, são sedutores e puros, como se os anos per se trouxessem prosperidade, paz, amor e sucessos.

SÓ QUE NÃO! Afinal passados 12 dias do Ano Novo, continua a haver pouco dinheiro, amor, felicidade e tudo o mais que foi desejado reciprocamente, com doses cavalares de hipocrisia ou não. Na virada, não virei, ainda bem... Resta saber como se opera, o processo de mudança se afinal as simpatias com fogos-de-artifícios, roupas brancas e contagem decrescente a mistura servem para o quê?

Também há daquelas pessoas que para carinhosas gerais só mesmo no final do ano; o carinho delas é sazonal, funciona à 14 de Fevereiro para os namorados, 19 de Março para os pais, segundo domingo de Maio para as mães, 1 de Junho para crianças e nas datas de aniversários dalguém senão for esquecida, (são os mesmos que ficam patriotas quando há vitórias da selecção de futebol) assim o frenesi do carinho faz muito sentido; amor a espalhar para tudo e todos, todo organizadinho em datas e tal.

Bom; há quem também para planear e balancear use apenas esta época, nada contra, nem favor... Cada um que faça esse exercício na data que melhor lhe convier, a bem dizer as vezes e quase sempre é mesmo necessário parar para observar e planificar, para quem não 'deixa a vida lhe levar'; seja no princípio ou no meio do ano tanto lhe faz, como lhe fez... Mas penso que havendo ou não tsunami, com ou sem eleições gerais, parece que os anos enquanto unidades de medição do tempo são indiferentes à sorte ou ao azar.

2015 será melhor, se trabalharmos mais, e se as circunstâncias permitirem, é que o petróleo está a ser transaccionado muito abaixo das 'nossas' previsões. Embora convenhamos que a ligação entre o petróleo e a felicidade não está ao alcance de todos. Bom Ano!


Nobre Cawaia