A propósito de datas comemorativas no calendário dos nossos dias, assalta-me o preocupante pensamento de que por mais chocante que possa parecer a um antigo combatente, o 11 de Novembro para muitos de nós, não é mais do que uma referência histórica, ou se entendida como o ‘Independence Day’ é a data em que os ‘tugas bazaram’… visões que reduzem a dimensão dos acontecimentos que culminaram na solenidade deste dia.
Também assim pensei em tempos, tudo porque ouvia alguns kotas dizerem que preferiam o tempo colonial enquanto outros destruíam as infra-estruturas construídas a custa de muito suor, sangue e lágrima no ‘tempo do chicote’; via a nudez que nos cobria quando não eram rotos trapos que nos enfeitavam; saboreava um funge com acompanhado das couves com cheiro a chouriço para esquivar a fome; aprendia o atraso de ser africano que começava na vergonha de menino pelo nome de matumbo (pesado, malaique e tradicional); e a fechar uma bandeira sem estilo - vermelha, amarela e preta - berrante e deprimente, nada a ver com as das estrelinhas fixes dos states!
Só que na negação da nossa origem, não só passávamos pelo ridículo do sotaque lisboeta fingido, como também e mais grave aceitávamos o chicote que muitos levaram por passearem na hoje Avenida Comandante Valódia (a.k.a. Combatentes). E acreditem o ridículo da pretensiosa alienação alemã, francesa, italiana ou ate mesmo brasileira perto do sofrimento da escravidão na própria terra, seguida da evolução para trabalhos forçados pagos com peixe seco podre, da burrice atribuída por ter a pele negra, do uso e abuso das mulheres como objectos sexuais ou a humilhação da inspecção a casa para ter acesso ao bilhete de identidade é apenas detalhe.
E percebemos que o vermelho berrante foi o castigo daqueles que sofreram e muito lutaram para podermos bailar, marrar, matabichar e até reclamar, que o preto personifica a África negra não na cor da pele - o que nos une é espírito, vemo-lo incolor - mas no luto e noite que pairaram sobre nós, o amarelo que somos ricos pelo que temos e mais ainda pelo que somos.
Assim fica claro que a dipanda foi a chave que abriu a porta da exigência para água potável, energia, emprego, habitação, transporte, educação, saúde e tudo mais que os nossos profundos quereres podem desejar dentro da lei, harmonia e sã convivência social.
Acho que devíamos usar a nossa irreverência das largas calças abaixo da cintura, da sensualidade da tarrachinha, do apego ao telemóvel e farras sem fim exigindo que felicidade fosse constitucionalmente consagrada, assim a ‘geração das utopias’ continuaria noutros tempos, noutras gentes, noutras questões, embora no mesmo lugar: Angola.
Sem nos esquecer nunca que mesmo livres o sangue continuou a correr e alertou-nos que a independência mais do que política tem de ser um compromisso pessoal e moral, pois ser independente não é o mesmo que desunidos, cada um cada qual… Cá dentro não temos outra opção senão a de interdependência, ou então, estamos sujeitos a falhar no nosso projecto de nação.
A fórmula da nossa sobrevivência está nas nossas raízes, no feijão de olho-de-palma, na história de Mandume, no Umbundu, no Semba e veremos que ser bom é ser angolano. O mundo todo saberá que a nossa terra bate e o nosso povo é o melhor.