A sociedade hoje está a produzir muita gente 'armada'. O
discurso será na primeira pessoa porque armado como sou não vou
deixar os créditos em mãos alheias. Embora apele a solidariedade do caro leitor
e por isso mesmo o número gramatical a usar será o plural; para que entendamos
todos que o número de gente armada é considerável; mesmo que não seja por
mérito próprio, é que somos todos produtos da nossa sociedade!
Começamos mal, sei. Entretanto hoje tendemos a ser mais directos
nos discursos, ríspidos e até irónicos, mesmo que seja apenas para nos sentirem a força. É que desde que a
genuína humildade desapareceu, somos todos armados e perigosos! Essa, entendamos
a humildade, de tantos maus tratos, traiu os seus próprios princípios. Tanto
que a dada altura tornou-se numa humildade ensaiada, armada em mais humilde que
todas as humildades do mundo. De tanta infidelidade a si mesma, apanhou uma
doença venérea e faleceu, diz-se; ou pelo menos está moribunda, fraquinha,
fraquinha.
Somos armados em que somos, armados em que temos, armados em
que podemos, armados, em que sabemos, armados em que fazemos e acontece,
enfim... Armados em bué, e para completar, a cereja no topo do bolo exigimos
humildade uns dos outros.
Mas não vamos falar de todas as armas, mesmo que esteja já armado
em conhecedor delas de cor e salteado, mas não; também senão o fizesse seria um
armado muito à toa.
Hoje na era informação, triunfou a irmã opinião, pedida e/ou
não, pública e/ou privada, escrita e/ou falada; há opinião para trás e/ou para
frente, para cima e/ou para baixo, dos lados esquerdo e/ou direito, fraca e/ou
forte, tendenciosa e/ou imparcial. Aparece-nos com cada assunto que temos de
dar opinião, temos de estar sempre 'en
garde', na net então? Só posta quem sabe, só comenta quem sabe mais, todos
temos de ter razão, todos sabemos opinar. Nada mal; democracia na área, o que
na vida real não é possível; vamos materializar na virtual (kia kia kia kia kia
- desculpem, emocionei-me!). Liberdade de expressão avante, talvez. Só que sentimos
que muitas vezes, isso quando não é sempre, estamos mais preocupado que o outro
aceite já já o nosso ponto de vista, uma vista enublada também as vezes.
Sei que na era da informação tudo é rápido e quem não deu
opinião hoje, que desse e ponto final. - Aqui agora é só ponto, e continuação.-
Por isso estamos sempre alerta, seja para atacar ou para defender, sem muitas
vezes termos tempo de estudar as estratégias de campo, é que pode não ser sequer
um ataque... mas enfim, fogo amigo!
Os meios de comunicação transformaram-se em arenas, bem que
podiam ser ideológicas, mas não; são arenas de vaidade, quem cita e referencia
mais, quem leu mais, quem ouviu mais, quem utiliza mais palavras caras. As
tantas perde-se a essência da luta e lutamos por entretenimento, mas nem isso,
é que o vermelho sangue não é bem a cor do amor, tornando o espetáculo triste. O público este que se dane se
houver, afinal todos são gladiadores..
As armas matam, não tanto o inimigo, porque essas balas
nunca são corajosas o suficiente para atacar os verdadeiros inimigos das causas
humanas. Escolhem os mais fracos e esquartejamo-los, decapitamo-los e levantamos
as cabeças, como se de troféus se tratassem. Mas o mais atentos até têm pena
dos gladiadores. Há momentos em que não estamos propriamente numa arena; estamos
entre amigos e família, o que acontece é que apesar de armados, quando chega a
verdadeira hora da luta, aquela hora H e dia D, as armas nada disparam ou nos
apercebemos que sempre foram obsoletas. Touché!
Sinto muito... Mas, até transformarmos a informação em
conhecimento precisaremos de muito treino, e o conhecimento em sabedoria, vai
ainda um longo caminho de humildade até atingir a máxima socrática de 'Só
saber, que nada se sabe'.
Até lá, treinemos... O combate talvez não seja hoje, nem agora; arena não seja esta é o inimigo não seja tu ou eu.