terça-feira, 10 de novembro de 2009

DIPANDA DAY



A propósito de datas comemorativas no calendário dos nossos dias, assalta-me o preocupante pensamento de que por mais chocante que possa parecer a um antigo combatente, o 11 de Novembro para muitos de nós, não é mais do que uma referência histórica, ou se entendida como o ‘Independence Day’ é a data em que os ‘tugas bazaram’… visões que reduzem a dimensão dos acontecimentos que culminaram na solenidade deste dia.
Também assim pensei em tempos, tudo porque ouvia alguns kotas dizerem que preferiam o tempo colonial enquanto outros destruíam as infra-estruturas construídas a custa de muito suor, sangue e lágrima no ‘tempo do chicote’; via a nudez que nos cobria quando não eram rotos trapos que nos enfeitavam; saboreava um funge com acompanhado das couves com cheiro a chouriço para esquivar a fome; aprendia o atraso de ser africano que começava na vergonha de menino pelo nome de matumbo (pesado, malaique e tradicional); e a fechar uma bandeira sem estilo - vermelha, amarela e preta - berrante e deprimente, nada a ver com as das estrelinhas fixes dos states!
Só que na negação da nossa origem, não só passávamos pelo ridículo do sotaque lisboeta fingido, como também e mais grave aceitávamos o chicote que muitos levaram por passearem na hoje Avenida Comandante Valódia (a.k.a. Combatentes). E acreditem o ridículo da pretensiosa alienação alemã, francesa, italiana ou ate mesmo brasileira perto do sofrimento da escravidão na própria terra, seguida da evolução para trabalhos forçados pagos com peixe seco podre, da burrice atribuída por ter a pele negra, do uso e abuso das mulheres como objectos sexuais ou a humilhação da inspecção a casa para ter acesso ao bilhete de identidade é apenas detalhe.
E percebemos que o vermelho berrante foi o castigo daqueles que sofreram e muito lutaram para podermos bailar, marrar, matabichar e até reclamar, que o preto personifica a África negra não na cor da pele - o que nos une é espírito, vemo-lo incolor - mas no luto e noite que pairaram sobre nós, o amarelo que somos ricos pelo que temos e mais ainda pelo que somos.
Assim fica claro que a dipanda foi a chave que abriu a porta da exigência para água potável, energia, emprego, habitação, transporte, educação, saúde e tudo mais que os nossos profundos quereres podem desejar dentro da lei, harmonia e sã convivência social.
Acho que devíamos usar a nossa irreverência das largas calças abaixo da cintura, da sensualidade da tarrachinha, do apego ao telemóvel e farras sem fim exigindo que felicidade fosse constitucionalmente consagrada, assim a ‘geração das utopias’ continuaria noutros tempos, noutras gentes, noutras questões, embora no mesmo lugar: Angola.
Sem nos esquecer nunca que mesmo livres o sangue continuou a correr e alertou-nos que a independência mais do que política tem de ser um compromisso pessoal e moral, pois ser independente não é o mesmo que desunidos, cada um cada qual… Cá dentro não temos outra opção senão a de interdependência, ou então, estamos sujeitos a falhar no nosso projecto de nação.
A fórmula da nossa sobrevivência está nas nossas raízes, no feijão de olho-de-palma, na história de Mandume, no Umbundu, no Semba e veremos que ser bom é ser angolano. O mundo todo saberá que a nossa terra bate e o nosso povo é o melhor.

7 comentários:

  1. uma cena escrita a algum tempo, e aproveitando a época agora publico.

    ResponderEliminar
  2. tas no bom caminho. continua a escrever. jovens pensadores precisam-se para este país que celebra mais um ano da sua juventude.

    ResponderEliminar
  3. Interessante... Ler tu falares sobre Independence Day.
    Atrevi me a dizer: besteira!!!
    Não pelo que escreveste, continuo a pensar que tens mesmo jeito pra escrever.
    Porem, besteira, pk acho que não sabes absolutamente nada sobre a independencia.
    E eu tbm...
    E eles tbm...
    Ninguem sabe.
    Os nosssos kotas guardam a 7 chaves sobre a independencia.
    Quantos livros foram escritos até hoje sobre isso???
    E os que foram... Qual a veracidade???
    Estamos mesmo num buraco psicologico em Angola.
    Nao se sabe absolutamente nada.
    Ouvi um dia que os comunistas gritaram INDEPENDENCIA lá em luanda, alguns dias depois os Fascistas gritaram INDEPENDENCIA no centro e depois os sem ideologia gritaram lá no norte.
    Enfim...
    Uns meses antes da suposta eleição marcada com os acordos de sei lá.
    Não houve nenhuma luta pra independencia, houve uma revolução lá na Tuga, a das rosas, ou cravos... E ai Eles decidiram se desvincular das provincias ultramar, só isso. Mas esta tão complicado que sinceramente nao me atrevo falar sobre isso(independence day) e admiro quem ousa falar.
    Ousaste escrever...
    Esta marcado.
    Mas continuo pensando que é besteira, falar sobre isso.
    Fico feliz em ver em ti a vontade pelo passado, nunguem cresce se nao olhar pra seu passado. Entao deveremos olhar pra o passado se quizermos crescer.
    Parabens.
    Boa sorte e um abraço grande pra ti.
    Deus te abençoe.

    ResponderEliminar
  4. Mas o Gonçalo esta maluco ou quê, entao agora esta a por em tabua rasa toda a gesta gloriosa pela independência, que começou desde os tempos de Ngola Kiluanji, esta a dizer que foram os tugas que nos deram a independência, que ninguem lutou?

    ResponderEliminar
  5. Spetacular, para screver assim soh podia ser msmo o meu bro Cauaia.

    Uma boa descricao da nossa bandeira e de facto, para uma jovem que nasceu mto dpois da Independencia essa intervencao foi mesmo ousada.

    Amei, continua assim...

    ResponderEliminar
  6. Acho que devo comentar o texto principal e não os comentarios de outros, porém farei um comentário em ambos textos:
    Primeiro:Adalberto, não entendi o sentido do antepenultimo parágrafo,porém a palavra IRREVERENTE, significa falta de reverência, disrespeito e desacato, não sei se foi esse o sentido desejado!

    Segundo: Gonçalo, dizes que não podes falar sobre independência mas acabaste falando e falaste "mal".Dou razão a Sócrates quando criticva os sofistas que falavam de coisas que mal sabiam...Meu caro Gonçalo, o texto escrito pelo Adalberto, tem mais caris social que político, e mais, é absurdo dizer que a independência nos foi dada, foi sim conquistada, não pelo MPLA,UNITA, ou FNLA que por sua ignorância os chamas de "sem ideologia", mas sim por todos angolanos...É só veres o percurso histórico, os antecedentes da independência, que embora deficitário, vais aprender um pouco mais!...Xpero não chateá-los e pela liberdade que tomei mesmo não conhecê-lo!
    Por Álvaro

    ResponderEliminar
  7. Conhece-los, queria eu dizer!
    Álvaro

    ResponderEliminar