Finda a quadra-festiva, ou seja, a época de festas, além
claro do balanço económico que se faz ou pelo menos se devia fazer; porque as
receitas aumentaram exponencialmente com o subsídio de Natal e bónus disso e
daquilo para quem os tiver (é que nisso de bónus não estamos todos juntos, nem
misturados), as despesas essas também não deixam nada a dever. Aliais, não
existe época qualquer ao longo do ano que rivalize em termos de consumismo;
bacalhau e passas à parte, a verdade é que se os perus não forem sacrificados
há sempre farinha, leite, ovos, margarina e açúcar acrescidos dalgum sabor a
qualquer coisa, ou especiaria rara (para os finórios) para adoçar a vinda de Nosso Senhor ou o champagne (seja em rigor ou J.C. Le Roux) para boa-sorte
no ano que vem.
Uma faceta não menos importante é a da carga de presentes que
se dão e se recebem (apenas no plano ideal), porque entre amigos ocultos com
prendas de baixo escalão (se aparecerem), a frustrarem expectativas de crentes neste galanteio muitas
vezes forçado e os sempre obrigatórios presentes infantis, impostos por uma
crença num qualquer barbudo voador de trenós movidos à renas, ficamos sem saber
se o simbolismo afinal tem valor ou não. E, por favor nada de valor
simbólico, tem mesmo de ser pecuniário, porque onde é que já se viu trabalhadores de
multinacionais ou altos funcionários do aparelho do Estado, com prendas simbólicas
que não rondem em Kwanzas pelo menos à duas dezenas de milhares?
Mas enfim... A vida é mais do que fartura, ou para ser mais
crente; é mais do que praticar numa só época todo o catálogo de pecados capitais; pius a gula
nunca foi tão lícita em todo o ano no calendário gregoriano (façam os devidos
acertos nos calendários chinês, árabe ou azteca que dará no mesmo = gordura e açúcar a mais); a indústria do emagrecimento
agradece.
Continuando, o melhor que se faz nessa época, além do amor
instantâneo e espontâneo a condizer com os sininhos e as luzes é o balanço, sempre oportuno do ano que termina e a perspectiva do ano a seguir. Convenhamos que aqui contamos com a sempre pronta ajuda dos livros de auto-ajuda, dados como prendas ou talvez comprados, teologia da prosperidade dessa fé pop, optimismo comercial, palestras de motivação e todas essas coisas que afirmam que só não será bem sucedido quem não quiser; mesmo quando todas as probabilidades indicarem o contrário.
Os desejos de Ano Novo são ambiciosos e eloquentes, são
sedutores e puros, como se os anos per se trouxessem prosperidade, paz, amor e
sucessos.
SÓ QUE NÃO! Afinal passados 12 dias do Ano Novo, continua
a haver pouco dinheiro, amor, felicidade e tudo o mais que foi desejado reciprocamente, com doses cavalares de hipocrisia ou não.
Na virada, não virei, ainda bem... Resta saber como se opera, o processo de
mudança se afinal as simpatias com fogos-de-artifícios, roupas brancas e
contagem decrescente a mistura servem para o quê?
Também há daquelas pessoas que para carinhosas gerais só mesmo no
final do ano; o carinho delas é sazonal, funciona à 14 de Fevereiro para os
namorados, 19 de Março para os pais, segundo domingo de Maio para as mães, 1
de Junho para crianças e nas datas de aniversários dalguém senão for esquecida, (são os mesmos que ficam patriotas quando há vitórias da selecção de futebol) assim o frenesi do carinho faz muito sentido; amor a espalhar para tudo e todos, todo
organizadinho em datas e tal.
Bom; há quem também para planear e balancear use apenas esta época, nada contra, nem favor... Cada um que faça esse exercício na data
que melhor lhe convier, a bem dizer as vezes e quase sempre é mesmo necessário
parar para observar e planificar, para quem não 'deixa a vida lhe levar'; seja no princípio ou no meio do ano tanto lhe faz, como lhe fez... Mas penso que havendo ou não tsunami,
com ou sem eleições gerais, parece que os anos enquanto unidades de medição do
tempo são indiferentes à sorte ou ao azar.
2015 será melhor, se trabalharmos mais, e se as circunstâncias
permitirem, é que o petróleo está a ser transaccionado muito abaixo das 'nossas' previsões. Embora convenhamos que a ligação entre o petróleo e a felicidade não
está ao alcance de todos. Bom Ano!
Nobre Cawaia